Aos 15 anos, Maria Joaquina Cavalcanti Reikdal, conquistou a primeira colocação na categoria Junior Feminino Inline do Campeonato Mundial de Patinação Artística, que ocorreu neste sábado (23), em Ibagué, na Colômbia.
“Há exato 1 ano eu estava desistindo de patinar por coisas que aconteceram. Esse ano também não foi fácil, ninguém tem ideia das coisas que passamos. Mas em outro momento falarei sobre isso… Hoje quero agradecer a todos meus amigos, familiares! Tô muito feliz!!! Já disse que sou CAMPEÃ MUNDIAL?”, escreveu a brasileira em suas redes sociais.
Retorno às pistas e ouro no Mundial
Em sua primeira apresentação, no programa curto – prova que conta com uma coreografia com aproximadamente 3 minutos — , Maria Joaquina se classificou em segundo lugar, com 37.12 pontos.
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No programa longo, com maior quantidade de exercícios obrigatórios e duração de até 4 minutos e meio, a atleta alcançou 69.54 pontos.
Para a classificação final, somam-se as duas notas. A patinadora contabilizou 106.66 pontos e chegou ao lugar mais alto do pódio, seguida pela argentina Giuliana Scamarda e pela italiana Sofia Ciacia, em segundo e terceiro lugares, respectivamente.
O Brasil também foi representado pela atleta Maysa Veiga Todeschi. A patinadora foi medalhista de bronze na categoria Sênior Feminino Inline e contabilizou 35.02 pontos no somatório de suas notas. Sofia Paronetto, da Itália, ficou com o ouro e Leila Aciar, da Argentina, com a prata.
À CNN, Maria relatou que decidiu retornar a prática ao esporte na modalidade inline – patins com rodas dispostas em linha –, no último momento de inscrição para o campeonato brasileiro, que foi realizado em março deste ano, em Brasília.
Segundo Gustavo Cavalcanti, pai e treinador da jovem atleta, ela iniciou as competições de maneira desestabilizada em Brasília, já que estava há quase um ano sem patinar.
“Como Maria também patina no gelo, faz uns três meses que o foco ficou exclusivamente nesta categoria. Toda essa mudança de patins de inline para o gelo afeta bastante o desempenho dela no inline”, contou.
De acordo com ele, a rotina da patinadora inclui treinos na pista de patinação com duração entre três e quatro horas três vezes por semana. Nos outros dias, Maria faz uma hora de preparo físico e treina com patins por mais uma hora.
Confira a apresentação de Maria Joaquina, divulgada pela Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP), no programa curto do Campeonato Mundial:
Preconceito no esporte
Maria, que treina em Curitiba, capital paranaense, começou a competir aos dez anos de idade e é considerada uma das maiores promessas do Brasil no esporte nas modalidades de gelo ou em rodas.
Na patinação no gelo, foi campeã brasileira nas últimas três temporadas e também participou do Grand Prix na Áustria. Sobre rodas, ela conquistou o primeiro lugar nos campeonatos brasileiro, sul-americano e mundial em 2023.
A patinadora, que é uma atleta transgênero, ao refletir sobre suas conquistas, também destacou as dificuldades em sua trajetória no esporte devido a sua identidade.
“Não é fácil lidar com preconceito no esporte, porque muitas pessoas não aceitam pessoas trans e me julgam, dizendo que não vou conseguir. Isso ainda me abala às vezes. Mesmo que agora esteja bem melhor, ainda existe esse preconceito muito grande”, contou a patinadora à reportagem.
“Se eu ganho é porque eu sou trans e não porque sou boa. Na minha primeira competição, com dez anos, fui chamada pelo meu nome antigo. Eu era pequena e fui competir normalmente. Depois, comecei a chorar, porque me chamaram por um nome que não era meu”, pontuou.
Para Gustavo, conciliar os papéis de pai e técnico é um desafio. “Sei do potencial dela, de suas batalhas e o que ela passou. Quando estou em pista, tento desvincular tudo e ser apenas seu treinador. Maria é intensa, dinâmica, tem uma força interior enorme, mas precisa de atenção, um olhar direto e companhia. Acabo ficando horas com ela na pista, tentando limpar cada movimento”, afirmou.
Segundo ele, a patinadora ainda possui mais três anos para competir na categoria Júnior, que antecede as etapas sêniores. “Agora é o momento de tentar. Haverá falhas e quedas, mas essa é a forma que vemos para ela se superar cada dia. Ela não vai ao campeonato fazendo o seu mínimo, ela vai sempre trazendo novos elementos. Maria é resiliência”, contou Gustavo.
“Para mim, esse título não é ser apenas campeã mundial, porque mostra tudo que eu enfrentei e tudo que vou enfrentar. Fiquei muito feliz. Foi uma grande vitória para mostrar que sou boa patinando. Não é só uma dedicação minha, mas também da minha família”, disse a atleta.
“Vou para os Estados Unidos para um treinamento de 30 dias. Depois disso, volto para o Brasil e vamos decidir se focaremos mais na patinação no gelo, inline ou se ainda vou continuar patinando”, concluiu Maria.
*Sob supervisão de Vinicius Bernardes