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A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o suicídio é evitável em 90% dos casos. Para que isso seja possível, a pessoa que enxerga a morte como a única saída para suas angústias e sofrimentos precisa ser “acolhida, escutada e respeitada”, segundo a Cartilha “Suicídio: estigma e enigma social” (acesse aqui), disponibilizada pela Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab).
Ainda assim, metade das mortes violentas no mundo são suicídios. Por ano, são registrados mais de 800 mil óbitos por essa causa. O Brasil ocupa a oitava posição no ranking, com 12 mil mortes anuais. Em 2019, esse número chegou a 13.105, aumentando 2,9% em relação a 2018 (12.725).
Esta quinta-feira (10) marcou o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, que faz parte do Setembro Amarelo. E para 2020, a principal preocupação é com a pandemia da Covid-19. Segundo a coordenadora do Núcleo de Estudos e Prevenção do Suicídio (NEPS) da Bahia, a psicóloga Soraya Carvalho, a doença causada pelo novo coronavírus gerou efeitos na saúde mental das pessoas por uma série de fatores.
O primeiro deles é o distanciamento social, “que muitas vezes é entendido como isolamento social”. “E se a pessoa está com algum sintoma de problema de ansiedade, angústia, ou depressão, a tendência é agudizar esses sintomas nessa fase. Ela vai estar sozinha, ameaçada. Assim como há uma tendência de aparecer casos de quem nunca teve antes”, afirmou ao Bahia Notícias.
A segunda questão importante, segundo a coordenadora, é o fato de o ser humano querer estar sempre em movimento. Dessa forma, quando obrigadas a ficarem dentro de casa, as pessoas sentem-se como se estivessem em uma prisão.
Os outros fatores que intensificam a piora geral da saúde mental são: a convivência constante com a família, que pode reaver conflitos que já estavam guardados; a “infodemia”, ou seja, o bombardeio de informações sobre o aumento de casos e mortes no mundo, bem como as fake news; os problemas econômicos, que geram incerteza sobre o futuro; e o alto nível de letalidade da doença.
“O fato de não saber se vai ter leito, respirador, gera aquele pânico, medo de contrair o vírus. Tem o medo de morrer por não ter o lugar para ter atendido. Isso tudo gera muita ansiedade e os efeitos disso são a depressão e o estresse pós-traumático”, alerta Soraya.
A Bahia registrou, em 2019, 634 mortes causadas por suicídio. Até o momento, em 2020, foram contabilizados 384 óbitos. Por isso, as autoridades de saúde ressaltam a importância de se atentar às pessoas que precisam de ajuda.
Incentivar a busca por ajuda profissional para quem sofre de sintomas como angústia, ansiedade e depressão é fundamental para prevenir o ato. A psicóloga Soraya Carvalho falou sobre a atuação dela e de seu grupo durante a pandemia.
“Tivemos 1.525 atendimentos individuais, 33% deles em horários não comerciais. A gente não teve uma tentativa de suicídio nos pacientes que atendemos. Alguns tiveram que ser internados, por causa da gravidade clínica”, contou.
Vale lembrar que existe um canal para pessoas que precisam conversar, o Centro de Valorização da Vida (CVV). Ele realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. O telefone é o 188.
COMO AJUDAR
A cartilha do NEPS disponibiliza uma série de dicas sobre como agir antes, durante e depois de presenciar uma tentativa de suicídio:
ANTES
“Acolher o sofrimento com uma escuta atenta e interessada, sem julgamentos, críticas, nem lições de moral. Ouvir é mais importante do que falar. Oferecer ajuda e conduzir a pessoa a um profissional especializado.”
DURANTE
“Não perder tempo. Tomar providências de acordo com a necessidade do caso: levar a pessoa ao hospital mais próximo ou chamar o Corpo de Bombeiro (193) ou o SAMU (192). Em caso de envenenamento ou intoxicação, ligar para o Centro Antiveneno (0800- 2844343). Vale ressaltar que é importante levar para o atendimento hospitalar as embalagens vazias dos produtos utilizados no ato suicida.”
DEPOIS
“Após uma tentativa de suicídio, muitas pessoas, quando despertam e percebem que não morreram, sentem-se ainda piores, pois o sofrimento motivador do ato se soma a sensação de fracasso. É muito importante não criticá-las, hostilizá-las, nem culpabilizálas. A tentativa de suicídio é o maior fator de risco de suicídio, por isso, o sobrevivente de um suicídio deve ser acolhido pela família e amigos e deve ser encaminhado urgentemente para tratamento especializado: psicológico, psiquiátrico, terapia ocupacional, etc.”