Embalada pela ascensão nas pesquisas, logo no primeiro confronto direto no debate da Band uma nova Marina Silva (PSB) inaugurou o estilo “chute na canela”: lembrou a pauta das ruas e ironizou o Brasil “colorido, quase cinematográfico” que, segundo ela, surge do discurso da presidente Dilma Rousseff. Marina sabe que é a única que pode se beneficiar dos ecos das ruas, desencantadas com os políticos e a política tradicional. Quer as ruas de volta à cena e aposta no cansaço do eleitor diante da polarização PT x PSDB, seu mote principal ao longo das três horas diante das câmeras.
Diante do segundo turno que começa a virar fumaça, o tucano Aécio Neves insistiu em seu mote principal, a economia. Citou rápido, muito rápido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e desfraldou a bandeira da estabilidade econômica. Não esperava perder tão cedo o protagonismo do embate com Dilma Rousseff. E, depois de uma semana em que Marina acenou ao mercado com a estabilidade do Banco Central, deixou para o último bloco seu lance de efeito: anunciou Armínio Fraga para o Ministério da Fazenda em seu eventual governo, contra-ataque diante da ofensiva marineira.
E Dilma? Usou o que tem: os números do governo, a criação de empregos, o governo Lula, o Bolsa Família. Foi evidentemente surpreendida pelo novo estilo provocador de Marina, e deu o argumento esperado por seus críticos quando, à voz das ruas, contrapôs a reforma política _ justamente o que não progrediu. Conseguiu até surpreender com frases como : “Eu acho que você não conhece a Petrobras, candidato” (para Aécio). Mas a ameaça maior vem de outro lado.
Tanto Dilma quanto Aécio usaram contra Marina o argumento da falta de experiência na área de gestão. O tucano mencionou sua atuação à frente do governo de Minas, e Dilma afirmou que um presidente não pode governar só fazendo discurso, “ele tem de fazer gestão”. Mas as ruas não querem “o campeonato de gerência de 2010″, lembrou a herdeira do posto de Eduardo Campos.
Duas notas: a ausência do tema do mensalão, para alegria de petistas e tucanos; e o fato de que, dos sete candidatos presentes, além de Dilma, outros três – Luciana Genro, Eduardo Jorge a Marina – passaram pelo PT.
Entre a economia e a a gerência, temas polêmicos foram tratados de modo periférico, trazidos sempre por Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV). O candidato verde cobrou de Aécio posição sobre o direito ao aborto, e a candidata do PSOL lembrou ao Pastor Everaldo (PSC) a violência dos crimes de homofobia. Assuntos que, pelo jeito, serão mantidos à sombra. Pior para o Brasil.
oglobo