O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acusou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de se envolver “diretamente” no acordo de delação premiada de executivos da J&F a partir de seu então “braço direito” Marcelo Miller, que, ainda como procurador da República, teria atuado dentro da instituição defendendo interesses do grupo empresarial.
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“A grande novidade, que não era novidade, mas que é uma confirmação, é que a Procuradoria atuou muito mal neste episódio e que ela se envolveu diretamente, que ela tinha objetivos a partir de um braço direito do procurador-geral”, disse Gilmar Mendes em entrevista concedida em Paris, onde cumpre agenda oficial como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O comentário do ministro, desafeto de Janot, ocorre após a divulgação de gravação da conversa dos executivos da J&F Joesley Batista e Ricardo Saud, na qual sugerem que Miller advogava interesses do grupo dentro do Ministério Público Federal (MPF) antes de deixar a instituição.
O procurador-geral nega saber da atuação dupla do seu ex-auxiliar, pediu investigação do caso e ameaça cancelar os benefícios da delação, que garantiu imunidade penal aos executivos da companhia.
Críticos de Janot, contudo, defendem cancelar a colaboração dos executivos da J&F, com a consequente anulação de investigações conduzidas a partir das acusações feitas por eles.
Para Gilmar Mendes, a atuação de Miller era um “segredo da carochinha” em Brasília porque todos sabiam do envolvimento dele no episódio, somente Janot “escamoteava” e “escondia”.
O ministro do STF ainda ironizou o procurador-geral. Segundo ele, Janot pensava em fazer um “gran finale” da sua gestão à frente do MPF, oferecendo “grandes denúncias”, inclusive uma última contra o presidente Michel Temer.
O magistrado disse ainda que Janot tentou envolver o STF de forma “realmente lamentável” no episódio da gravação dos executivos da J&F. Na segunda-feira, em entrevista, o procurador-geral disse que o áudio continha envolvimento de ministros da Corte. Para o ministro, isso mostraria realmente “sua pouca qualidade institucional” e que a divulgação do áudio mostra exatamente que não se pode “brincar com as instituições”.
“Eu tenho a impressão de que, se formos fazer um juízo do legado do lulo-petismo, nós podemos pensar em duas marcas importantes: a indicação de Dilma Rousseff para presidente da República e a indicação de Rodrigo Janot. Elas são inesquecíveis”, concluiu.