Gloria Gaynor conta que, ao gravar “I will survive” – a música de 1978 que lhe renderia o título de “rainha da disco” –, sabia que estava diante de um hit. Em entrevista ao G1por telefone, a cantora, que se apresenta em São Paulo na noite desta quinta-feira (18), afirma que atribuiu o presságio a duas tragédias pessoais.
“Antes da gravação, eu tinha feito uma cirurgia de coluna, e minha mãe havia morrido…”, recorda. “Na época, pensei: ‘Se coloquei essas duas coisas na música – e elas não tinham nada a ver com a letra –, as outras pessoas provavelmente vão estabelecer o mesmo tipo de relação.”
Funcionou, embora talvez não como imaginasse a intérprete. De ícone da disco music, “I will survive” converteu-se em cântico da libertação feminina e, posteriormente, em hino da comunidade gay. Ao rever essa conhecida trajetória, Glória não a reprova. “Não acho que exista qualquer diferença, por ter se tornado um hino para quem quer que seja. Todo mundo está tentando sobreviver a alguma coisa. As pessoas sempre encaram situações e circunstâncias realmente difíceis – e elas esperam sobreviver.”
De acordo com a cantora, existem várias jovens artistas credenciadas a gravar “a nova ‘I will survive’”. Ela enumera: “Alicia Keys, Beyónce, Rihanna, Adele – muitas músicas dela são incríveis”. A lista se completa com um quinto nome, a quem Gloria dedica uma avaliação que mistura elogio e crítica.
“Mesmo a Lady Gaga, ela é muito talentosa”, observa. “Realmente espero que ela possa se tornar uma artista menos estranha, e então ter mais longevidade. Porque não acho que o tipo de coisa que ela faz tenha longevidade”, aponta Gloria. “A música dela é para pessoas muito jovens. Mas ela está amadurecendo, como todos nós. Espero que um dia possa ter maturidade para fazer o seu talento brilhar.”
Professora
Aos 63 anos, Gloria Gaynor se diz incapaz de contar com exatidão o número de vezes em que passou pelo Brasil. Admite que houve mais de dez turnês e faz questão analisar positivamente a audiência local. “O público brasileiro é genuinamente muito receptivo, tem muito ritmo, dança com a música, canta junto e torna as coisas fáceis para nós.”
No que depender de Gloria, os sucessos do passado vão estar sempre presentes nos shows. Além de “I will survive”, o set prevê as habituais “Never can say goodbye”, “Can’t take my eyes off you” e “I am what I am”. “Acredito que essas músicas trazem as pessoas aos shows. E, antes de tudo, seria injusto não tocá-las, as pessoas amam.”
Por fim, Gloria conta que, se “I will survive” não tivesse se tornado o que se tornou, haveria uma alternativa de carreira: ela acha que sempre levou jeito para professora. “Quando eu era criança, ficava frustrada se a professora explicasse algo na sala de aula e os alunos não entendessem”, lembra. “Eu era a primeira a explicar para elas. E explicava de um jeito que elas entendiam – e que a professora talvez não fosse capaz de fazer.”
A ideia de professora seria reforçada anos mais tarde, num novo episódio “trágico”, segundo a cantora. “Em 1995, quando minha irmã morreu, um jovem rapaz foi ao funeral dela e me disse que eu havia mudado a vida dele. Pensei comigo mesma: ‘Aqui está outro homem que gosta de ‘I will survive’…’.” Não era o caso.
“Ele, então, falou: ‘Não. Quando eu tinha cinco anos de idade, eu estava na escola e as crianças estavam aprendendo a ler e escrever os próprios nomes – e eu não conseguia. Mas você me ensinou’. Eu mesma deveria ter, talvez, dez anos de idade na época.”
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