O enoturismo na região carrega história da persistência dos visionários ao tentarem o impensável, produzir vinhos e espumantes entre cactos e espinhos
Catarse é a liberação de uma forte emoção, seja traumática ou não. Essa pode decorrer de situações vividas ou de recordações, tanto de forma inesperada, ser natural ou provocada por indução profissional ou não.
Quando planejei fazer o passeio Vapor do Vinho, contatei Daniel e Rogério Pereira, nunca pensei o que iria acontecer comigo uma catarse durante a viagem.
Como a vazão reduzida do Rio São Francisco, o passeio se iniciou dentro do ônibus até a Vinícola Miolo em Casa Nova – BA, de lá fomos para passeio pelo Lago de Sobradinho.
O guia da viagem foi o Rogério Pereira, conhecedor da história do cultivo da uva na região. Ao relatar os fatos a minha mente fez uma grande viagem. Apertava com força a mão do meu marido para controlar as emoções, até poder extravasar discretamente o que não tardou acontecer quando entramos no vapor.
Lembranças de várias situações ao passar pelo Lago, com os passeios com a minha família, ao ver em muitos momentos o lindo nascer e por do sol nas margens do Rio São Francisco, algumas vezes no lado de Juazeiro e outras vezes no de Petrolina, que se unem pela ponte.
Veio também a recordação do meu pai Francisco Rodrigues Teixeira que nasceu em Remanso – BA e o encontro com toda sua família antes da cidade ser inundada pelo Lago de Sobradinho (Casa Nova e Sento Sé também foram inundadas). Aí veio a imagem de Vó Sinha (Teobalda), tio Maninho (ele tinha o maior carinho por mim. Adorava presentear-me com livros.) e tio Odemir.
Ao citar o nome de José Molina (espanhol), aí as lembranças foram para ele e sua esposa Barla (ela brasileira, nascida em Santa Maria da Boa Vista – PE). Como eram amigos dos meus pais, denominávamos como Tio.
Falei: — As imagens e as emoções estão fortes demais.
Logo veio a lembrança de Tio Gurgel (Francisco de Assis Gurgel, 1938 – 1990, no dia 17/06/2018 – ele faria 80 anos) que foi chefe na Codevasf e implantou o Projeto do Bebedouro, depois o Projeto Nilo Coelho, entre outros. Largou o concurso no Banco do Brasil na época, para fazer o que ama como Agrônomo. A irmandade entre as famílias Martins Teixeira e a Assis Gurgel é recheada de amor e carinho (depois, ao falar com Tia Luzia Gurgel, ela recordou o compadre Dr. José Teodomiro de Araújo – grande estudioso e defensor do Rio São Francisco; Nely Regis – chefe da Codevasf em Santa Maria da Boa Vista; e, o Dr. Moacir Magno Carvalho, um dos primeiros diretores da Codevasf.).
Após enxugar as lágrimas e me envolver com a música MPB que tocava no passeio, eu comentei com Rogério Pereira a carga de emoção que senti com a fala dele durante o passeio e a viagem emocional que fiz e o convidei para escrever sobre o passeio para esta coluna.
Assim, Rogério Pereira pediu um texto sobre os passeios do vinho no Vale do São Francisco para minha Amiga de infância Tânia Nogueira (ele não sabia que tínhamos estudado juntas no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora – ela é Historiadora, Pesquisadora e Guia turística). Então, vocês compreenderão por eu ter recordado tão fortemente Tio Molina e Tio Gurgel, pessoas que devem ser lembradas com respeito e gratidão por dedicação a nossa região.
“A partir da década de 1960, inspirado na irrigação da região do Arizona (EUA) e Israel, com a implementação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do Vale do São Francisco para o aproveitamento das águas do rio São Francisco, foi dado a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) o aval para a implantação dos Projetos de Irrigação de Bebedouro, em Petrolina e Mandacaru, em Juazeiro. Depois na década de 80 o Projeto Massangano, que passou a se chamar Projeto Irrigado Senador Nilo Coelho, posteriormente outros foram implantados e continuam atualmente.
O agronegócio, o agrocomercio e a agroindústria, assim como a exportação de frutas dão a base para o consolidado Turismo de Negócios do Vale do São Francisco.
Petrolina e Juazeiro tornaram-se os pilares de um Oásis Sertanejo oriundo do trabalho da Codevasf: a Fruticultura Irrigada se estabeleceu como um sucesso em qualidade, quantidade e tecnologia, tanto para atender os mercados nacionais e internacionais.
A região produz frutas o ano inteiro, com especial atenção para a uva de mesa (são incríveis três safras/ano), a manga e a acerola (além da uva e da manga, o Vale tem a maior produtividade de acerola do País e que também é exportada). Mais recentemente a introdução da maçã e da pêra, otimizando o turismo pedagógico, técnico-científico, lazer entre outros.
O tempo passa e a terra da navegação se torna a terra dos Vinhos Tropicais, onde outra leva de aventureiros de terras distantes de clima temperado chegam para tentar o impensável, produzir vinhos e espumantes entre cactos e espinhos.
Sem esquecer o começo histórico, os primeiros passos na década de 1960. Em Floresta – PE, Milvernes Cruz Lima, começa os experimentos com a produção de uva de mesa na localidade de Belém do São Francisco. Depois, o espanhol José Molina começa também a sua saga, em terras dos Índios Coripós, depois denominada Santa Maria da Boa Vista – PE, onde nasceu a vitivinicultura do Nordeste brasileiro, na Fazenda Milano (vitivinícola São Francisco), de propriedade de um grande visionário e percursor da produção de vinhos no Nordeste, e em particular no Sertão do Vale do São Francisco.
Na década de 1970, o Grupo Pérsico-Pizzamiglio começa a produção de uva de mesa. O nisei Mamuro Yamamoto também introduz a produção de uva de mesa em uma localidade chamada Vermelhos.
Em 1980, a Fazenda Milano produzindo vinhos finos em parceria com a Maison Forestier, com o decorres do tempo os espumantes e sucos de uva. O grande vinho e o mais famoso: Botticelli.
Seguindo a Rota do Vinho e da Uva, temos a Capital da Uva e do Vinho do Nordeste do Brasil, a cidade de Lagoa Grande-PE com quatro Vitivinícolas: Santa Maria Rio Sol – Garziera/Garibaldina, São Braz – Bianchetti & Tedesco.
Subindo a Rota do Enoturismo do Vale, chega a Vitivinícola Miolo Terra Nova, antiga Vale dos Cactos, no distrito de Santana do Sobrado – BA, na Borda do Lago de Sobradinho, em Casa Nova – BA.
E completando o Enoturismo se chega a Curaçá – BA, com o mais novo vinho do vale do São Francisco, na Vinum Saint Benedictus. Com uma visita encantadora, degustando um vinho de colheita noturna e microvinificação.
O Vapor do São Francisco faz o roteiro Enoturístico Vapor do Vinho em homenagem aos vapores do rio e ao vinho do Vale, agrega o sabor do Vinho ao prazer da Navegação no único rio inteiramente brasileiro, o navegador barqueiro Rogério Pereira une o seu sonho à nova realidade do Vale do São Francisco.
Com o seu Vapor São Francisco, ele proporciona aos turistas e aos moradores locais uma experiência única, que é visitar uma Vitivinícola sertaneja, navegar no maior Lago Artificial das Américas, o Lago de Sobradinho, passando panoramicamente em frente da Hidrelétrica, rememorando a história da construção da maior obra do Nordeste do século XX. Assim como, poderá banhar-se na refrescante água do rio São Francisco em uma embarcação clássica e elegante.
O Turismo no Vale do São Francisco é realizado de acordo com a expectativa dos turistas que procuram o destino. Tanto pelo passeio tradicional, como é possível fazer a visita completa. O atendimento é feito de uma a cem pessoas de maneira particular, onde um roteiro é apresentado. Pode ser realizado de forma ampla com os passeios fixos que acontecem normalmente aos sábados, domingos e feriados, como o Vapor do Vinho é a Rota do Vinho.”
A riqueza que o Rio São Francisco proporciona é ampla, mas é importante destacar a importância do seu uso sustentável, sua conservação e
preservação do seu meio ambiente com o respeito e a responsabilidade devida, as consequências dessa não prática serão incalculáveis. O Rio São Francisco deve ser cuidado desde a sua nascente na Serra da Canastra (Minas Gerais), por todo seu percurso nos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, onde desemboca no Oceano Atlântico, no município do Piacabuçu. Existem programas e ações para a recuperação de áreas degradadas, preservação de nascentes, controle de processos erosivos e conservação da água e do solo e monitoramento da biodiversidade da flora e fauna nativas, entre outras medidas, mas população deve participar ATIVAMENTE de maneira coletiva com a sua comunidade para a manutenção desse tesouro COBRANDO e FISCALIZANDO os setores competentes.
Eu só posso agradecer por tanto carinho que recebi quando criança, jovem e hoje adulta ao locais por onde passei e as pessoas que cruzei durante as minhas caminhadas na região.
Finalizo com a mensagem da canção do cantor e compositor Jorge de Altinho (1956) que homenageia com tanto primor as duas cidades do meu coração e com todas as emoções abordadas de saudade para quem saiu da sua terra e construiu uma nova história em outro lugar:
“Hoje me lembro que no tempo de criança
Esquisito era carranca, e o apito do trem
Mas achava lindo quando a ponte levantava
E o vapor passava no gostoso vai e vem
Petrolina, Juazeiro, Juazeiro, Petrolina
Todas duas eu acho uma coisa linda
Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina
Eu gosto de Petrolina e adoro Juazeiro.”
Profissionais que contribuíram com a coluna (grata pelo carinho de sempre):
Rogério Pereira – Administrador do Vapor do Vinho. Contatos: (87) 98130.5630 e (74) 98805.1809.
Tânia Nogueira da Costa – Historiadora, Pesquisadora e Guia de Turismo. Contatos: (87) 98851.7546 e (87) 99900.0613.
Sugestão de leitura:
Figueiredo, José e Carvalho, Marcos. Ensolarado Sertão, Magníficos Vinhos.
Milhões de beijos iluminados,
Mariomar Teixeira – Numeróloga & Consultora: de Feng Shui, de 4 Pilares e de Zi Wei Dou Shu. Contatos: (81) 99807.4568 – Tim e WhatsApp / (81) 99100.9617 (Claro) – E-mail: holisticarec@gmail.com. Intagram: @mariomar_teixeira
Perfil
Mariomar Teixeira é formada em Secretariado na UFPE com mestrado em Extensão Rural e Desenvolvimento Local na UFRPE. Filha, esposa e mãe. Ama ler, estudar, tricotar e cozinhar. Dedica-se aos estudos de metafísica desde 1980, principalmente Numerologia. Em 1993, além de assumir um concurso público federal, também o trabalho como numeróloga é reconhecido. Colunista da Folha de Pernambuco de 1998 a 2005, coluna Numerologia. No mesmo período foi colunista da Revista Club com as colunas: Holística e Lançamento de livros. Professora e Consultora de Feng Shui desde 1997.
* A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas