Artigo do Leitor: O Coronelismo em Casa Nova – BA

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Rafael Nascimento
Rafael Nascimento

O coronelismo foi determinante na formação histórica e política de Casa Nova, mas principalmente, impulsionado pela presença da família Viana no município desde a sua chegada no século XIX.

Esta família é considerada por muitos como fundadora da cidade e sua importância vai muito mais além, mantida através da ética política e moral da qual detinham o controle social. Os registros da existência de coronéis na cidade eram advindos da família Viana, como também, a responsabilidade da formação do município em termos políticos e históricos.

O fator principal desta discussão permeia exatamente a questão propícia do conhecimento a cerca do coronelismo no Vale do São Francisco, especialmente sob uma visão local do coronel interiorano – aquele que de certo modo não tinha as mesmas regalias que os do litoral, pois, logo dizendo, Casa Nova é um município que fica ao norte do Estado baiano, mas que por ser sertão se diz interiorano, um lugar que é geograficamente isolado, tornando-se distante da capital.

Segundo Rodrigues, Seixas e Castro (1985), o principal motivo para a ocupação do território da cidade de Casa Nova – BA, isso na antiga sede, chamada hoje pela população como “Cidade Velha”, (que fora deslocada geograficamente devido à construção da Hidrelétrica de Sobradinho – BA), foi a descoberta das salinas, (jazidas de sal, cloreto de sódio, comumente chamado de “sal de cozinha). Devido a esse produto, que na época tinha um preço comercial relevante, começou a aparecer várias pessoas interessadas em sua exploração.

 

Nos primórdios da colonização, a região era ocupada por hordas indígenas, possivelmente pelos Acroá e Geicó, que lutaram contra os invasores de suas terras, os paulistas e os homens da Casa da Torre, destruindo as casas e os currais desses povoadores. Posteriormente, nos princípios do século XIX, em grande trecho do Vale do São Francisco, foram descobertas extensas eflorescências de Sal (Cloreto de Sódio), de grande valor econômico, batizado de ‘Sal da Terra’, o conhecido e utilíssimo ‘Sal de Cozinha’. As jazidas então descobertas denominadas ‘Salinas’, passaram a ser exploradas. (RODRIGUES; SEIXAS; CASTRO, 1985, p. 3).

 

Foi a partir da extração do chamado “sal da terra” que aparece um nome, que porventura o maior de todos os casa-novenses que é o de José Manoel Viana, considerado fundador da cidade e o maior coronel de Casa Nova, título dado pelo governo.

 

A ocorrência de sal nas terras da fazenda do Capitão JOSÉ MANOEL VIANNA, conhecida pelo nome de ‘RIACHO DE CASA NOVA’, pois achava-se situadas na confluência desse Riacho com o Rio São Francisco, na sua margem esquerda, deu motivo a que surgisse no local um povoado composto, principalmente, por trabalhadores das salinas, os salineiros, que teve desenvolvimento relativamente rápido atraindo de imediato o interesse dos sertanejos que ali se fixaram, ou, então, transitaram conduzindo boiadas vindas do Piauí, destinadas à Bahia. […]. Amealhando considerável fortuna, de Capitão passou a Coronel da Guarda Nacional, e assumiu a posição de poderoso chefe político, liderança que foi transmitida aos seus descendentes, vigorando até hoje. (RODRIGUES; SEIXAS; CASTRO, 1985, p. 3-4, grifo do autor)

 

Nota-se que o primeiro nome dado ao vilarejo foi Riacho de Casa Nova, que não era inicialmente uma “cidade”, mas sim um povoado. Este nome advém das terras do então Capitão José Manoel Viana onde um riacho entrecortava a propriedade, sendo que o Casa Nova referencia um sobrado que possuía o Capitão na época.

 

A fixação e a consequente atividade pioneira na pecuária, na agricultura e no comércio do sal, do Capitão José Manoel Vianna na área, conferiram a esse destemido desbravador, o justo e merecido título de Fundador de  Casa Nova-BA, por ali ter feito edificar uma ‘Casa Nova’ ou Casa-Grande de alvenaria, ladrilhada, de telha vã e caiada, onde o branco se destacou na paisagem verde-azulada do meio rural, tendo também a primazia da construção de uma Capela que teve por orago, São José. (RODRIGUES; SEIXAS; CASTRO, 1985, p. 4, grifo do autor).

 

Não se sabe ao certo, se a patente de José Manoel Vianna foi, de fato, dada pelo Governo Imperial. Porém, tornou-se um homem de grande destaque no campo econômico, como também, para o crescimento local, visto que, geograficamente, a área habitada por ele não favorecia de modo imediato possibilidades para um crescimento notório. Mesmo assim, ao seu modo conseguiu entrar no âmbito político e ter feito de seus filhos pessoas estimadas, como também a parentela chegar a altos cargos (no setor judiciário, medicina, engenharia e política) a exemplo de seu filho Senador Luiz Viana.

 

O mais impressionante, porém na biografia de Coronel José Manoel Viana, sertanejo simples, pacato, modesto, de poucas letras, mas de atitudes firmes e corajosas, foi a sua disposição esclarecida de dar aos filhos uma ‘Carta de Doutor’, uma instrução superior formadora de bacharéis, médico e engenheiros, carreiras sempre preferidas. […] O resultado da visão desse homem nascido e criado nas barrancas do Rio São Francisco, foi ter um dos filhos, Luiz Viana, alçado às culminâncias do Governo do Estado, […]. (RODRIGUES; SEIXAS; CASTRO, 1985, p. 5, grifo do autor).

 

São várias as peculiaridades que circundam a pessoa do coronel José Manoel Viana, e uma delas é a de um monarca que fez de sua família uma enorme parentela.

 

Por fim, merece ser lembrado que o Engº Jovino do Prado Pereira, casado com uma bisneta de José Manoel Viana, organizou sua árvore genealógica que criou entre os membros componentes da grande família Viana, originada em Casa Nova, de genealogia portuguesa, pois um certo Sr. Viana, vindo de Portugal, viúvo, acompanhando dos filhos Domingos, Clemente e Francisco, e casando-se no Brasil, nasceram seus filhos: JOSÉ MANOEL, MANOEL MARIANO e MARIA DAS VIRGENS, todos em Casa Nova. (RODRIGUES; SEIXAS; CASTRO, 1985, p. 7, grifo do autor).

 

A partir do que foi citado acima pode considerar que José Manoel Viana era um típico coronel do século XIX e que após sua morte em 1911 deixara a parentela e seu monopólio político, econômico e social na cidade de Casa Nova – BA.

Com a morte de José Manoel Viana o seu grande sucessor que entra para a história é o seu filho, nascido em 1946, em Casa Nova, região do Médio São Francisco, Luís Viana – chefe político local pelo Partido Conservador. (PANG, 1979, p. 78).

Ele tinha formação acadêmica em Direito pela Faculdade de Recife em 1869, tornando-se em seguida grande ilustre na vida pública e jurídica da Bahia.

Em 1870, Luís Viana tornou-se um forte correligionário do Barão do Cotegipe e de municípios baianos tendo influência nas eleições como assevera Pang (1979, p. 78) quando afirma que “Luís Viana era um típico coronel, quanto ao seu enfoque político, frequentemente enviando um bando de jagunços a diversos municípios para assegurar a vitória dos conservadores nas eleições”.

O uso de tropas policiais do governo, como também, jagunços era frequente nas práticas coronelista. Sobretudo, com a ascendência de Luís Viana ao cargo de governador da Bahia.

Nesse sentido, Pang (1979, p. 79) salienta que:

 

O início do uso de expedições policiais, ou política de confronto, surgiu com a ascensão de Luís Viana ao governo. Suas pretensões
políticas não se limitavam ao nível estadual. Sempre ambicionando o governo federal, Luís Viana começou a expandir suas bases de poder pessoal através de todo o estado. Com essa finalidade, não excitou em usar a violência. Os policiais do Estado, ou força pública da Bahia, tornaram-se jagunços pessoais do governador.

 

Luís Viana durante sua história política teve maior destaque em suas atividades em 1896/97 época da Guerra de Canudos onde teve que eliminar o movimento por pressão da oposição. Porém, o fim do governo de Viana estava próximo, de acordo com Pang (1979, p. 83):

 

Apesar das batalhas terem sido ganhas pelos militares, Viana perdeu a guerra contra seus inimigos […]; cento e vinte cinco estabelecimentos comerciais e bancários acusaram o governador de cumplicidade e o prestígio de Luís Viana terminou.

 

Assim, Viana finaliza sua história no governo estadual de forma eclipsada, sem a aprovação dos coronéis do interior, da colônia mercantil da cidade baixa de Salvador, como também, sem o apoio da Associação Comercial da Bahia. E em 1900, Severino Vieira assume o cargo de governador baiano.

 

Rafael Nascimento dos Santos /  Estudante concluinte do 8º período de curso de História na UPE.

Formação: Terceiro grau completo em letras Português  / Casa Nova – Bahia

 

 

 

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