Além de atravessar um período de fragilização, o DEM, desde que deixou de ser PFL não consegue encontrar novos caminhos para recuperar o prestígio eleitoral que antes tinha, especialmente na Bahia antes da morte do senador Antônio Carlos Magalhães. Se, aqui, se observou uma diáspora no então grupo carlista, em outras unidades federativas do Nordeste, onde o ex-PFL concentrava a sua força, a legenda também muito perdeu. Mas por outros motivos. O principal dos quais o enraizamento da força petista a partir de Lula.
Não somente. O DEM tem uma trajetória histórica complicada. Trata-se de um partido bisneto da velha UDN, especialista em conspirações pré-golpe de 1964. A legenda foi fulminada pelo fim do sistema pluripartidário de então, com o Ato Institucional No.2, baixado em 1965. Transformou-se em Arena, na ditadura; PDS na sequência; depois PFL e, por fim, no DEM, que não conseguiu afastar a herança, mesmo com a mudança de nome.
Recai sobre a legenda um estranho azar. Se nunca teve jeito para ser oposição desde a época udenista, agora é marcada por acontecimentos que envolvem corrupção, mesmo que o partido queira se livrar desse incômodo. Isso aconteceu no Distrito Federal com o governador José Roberto Arruda e, agora, com o falso catão, senador Demóstenes Torres.
No caso brasiliense, a cúpula do DEM foi rápida e expulsou Arruda. No escândalo do Senado, o presidente da legenda, José Agripino, pensa em movimento semelhante, mas a situação é mais difícil. Arruda tinha um histórico que vinha da quebra do sigilo do painel do Senado. Era recorrente em mutretas. Já Demóstenes passava a imagem de um político puro, condenando e pedindo a punição de corruptos da tribuna do Senado. A dor é maior. O partido espera que parta do senador a iniciativa de seu desligamento, já que o Supremo Tribunal Federal vai investigá-lo após acatar a denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República.
O senador era tido como o oposto de Arruda e, assim, um nome com o qual o DEM combatia os “malfeitos” da República. O peso é diferente, daí mais doloroso para os Democrata. Se a iniciativa partir de Demóstenes, se possível com a renúncia do mandato, menos mal. Caso contrário, volta a se manifestar o azar que ronda a agremiação, que tenta se revigorar eleitoralmente e se vê diante de obstáculos difíceis de transpor.
Em ano eleitoral como este, os Democrata têm, ou tinham, a esperança de melhorar a sua presença política conquistando prefeituras, entre as quais a de Salvador, alvo do deputado ACM Neto, que lidera a bancada do partido na Câmara. Nesta semana que se findou, lideres e dirigentes regionais do DEM, especialmente candidatos, passaram a se preocupar com o estrago que o escândalo projeta sobre a legenda. Estão a cobrar, insistentemente, uma saída rápida para o caso Demóstenes. O partido sabe que o golpe atinge eleitoralmente os candidatos que se submeterão às urnas deste ano. A cúpula partidária tem o mesmo entendimento. Tanto assim é que ACM Neto tem se reunido com o líder no Senado, José Agripino, também presidente do partido, para encontrar uma solução. Qualquer uma que seja o partido vai sangrar. Quanto mais demorar, pior.
O que se passa com o DEM? Será que está a pagar o preço dos pecados cometidos ao longo da história desde o bisavozinha, a UDN de Carlos Lacerda, responsável direto pelo suicídio de Getulio Vargas e 1954 e conspirador-mor do golpe de 64? É uma carga efetivamente pesada, porque o temor de seus integrantes é que o DEM continue a definhar até encontrar a vala comum dos partidos mortos. Aqui na Bahia, no auge da força carlista o então PFL chegou a espraiar o seu comando sobre 84% dos municípios baianos. Há de se considerar, no caso, que a força partidária do grupo de ACM se dispersava. Não estava tão somente concentrada no PFL. O líder costumava satelizar o seu poder, enfeixando-o a partir da ocupação de diversos partidos, que comumente disputavam prefeituras um contra o outro. Aliás, nada diferente do que acontecerá este ano, com prefeituras almejadas por legendas da base aliada governista. A diferença está no fato de que a Bahia hoje está democratizada com Wagner.
Os candidatos do partido, enfim, estão em desconforto e alegam que não podem esperar muito por uma decisão de Demóstenes, se imolando, ou da cúpula partidária, expulsando-o. De fato, quanto mais demorar, pior, porque o nome Democrata, assim dizem eles, passou a ser demonizado em todo o País. É uma realidade, se houve uma estupefação nacional com o que foi descoberto acerca de um senador que cobrava dos parlamentares e da República uma ação pronta e exemplar conta a corrupção, o que dizer dos eleitores? O escândalo não alcança somente o eleitorado do DEM, mas sim os políticos de modo geral, cuja imagem junto a opinião pública é péssima. O raciocínio que se faz é direto, quase semelhante ao que está logo acima sobre o pensamento dos eleitores: se o senador Demóstenes, que combatia a corrupção, também a praticava, o que imaginar dos demais políticos?
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde deste domingo (1º)
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